O problema que ofusca o brilho - Thairiny Cristiane Ribeiro - MEDALHA DE OURO

Localizada no interior do Estado de São Paulo, Limeira já foi muito conhecida por ser a capital da laranja e por abrigar a primeira fazenda que recebeu imigrantes como trabalhadores no final do século XIX. Com o passar dos anos, os setores que sustentam a economia de Limeira mudaram, e hoje a cidade tornou-se a capital da joia folheada.
Grande parte da população da cidade trabalha e sustenta suas famílias com a fabricação de bijuterias, que inclui solda, montagem e banho (tratamento químico que dá brilho às peças), com a comodidade de serem montadas em fabriquetas de fundo de quintal e banhadas em grandes ou pequenas empresas, clandestinas ou legalizadas.
No entanto, uma questão muito discutida aqui é o impacto ambiental causado principalmente por empresas não regularizadas, geralmente situadas em bairros da periferia da cidade. Por não terem condições básicas de funcionamento e pela ganância dos proprietários que só visam ao lucro e não tratam seus resíduos químicos, despejam tais substâncias, provenientes do processo produtivo dos folheados, diretamente no esgoto de Limeira. Como conseqüência disso, as águas fluviais da cidade apresentam grande quantidade de metais pesados, como cromo, níquel, cobre e chumbo – um risco para a saúde e o bem-estar dos cidadãos, que, em contato com esses metais, podem ser acometidos de problemas gastrintestinais, anemia, danos no sistema nervoso central, disfunção renal, entre outros.
Entretanto, são essas empresas poluidoras que mais empregam a população humilde da cidade, que por ter poucos recursos de renda e educação, aceita trabalhar nessas fábricas, mesmo correndo riscos de contaminação, muitas vezes sem registro em carteira de trabalho e sem direitos básicos como décimo terceiro salário e licença-maternidade.
Já os proprietários alegam que os custos para o tratamento e regularização da empresa são altos, assim como as exigências para a legalização são absurdas, inviabilizando a produção.
De acordo com a Associação Limeirense de Joias (Aljoias), o custo para o tratamento de resíduos químicos é viável, até mesmo para as pequenas empresas, e o rigor é necessário para a legalização, já que esse setor expõe as pessoas a alto risco, direta ou indiretamente.
Do meu ponto de vista, deve-se investir em projetos educacionais de formação profissional para que esses trabalhadores possam competir no mercado de trabalho e exigir seus direitos. Também é necessário fiscalizar com eficácia, punir e até mesmo promover o fechamento dessas empresas que não tratam seus resíduos e, portanto, desobedecem às leis ambientais. Consequentemente, com a regularização e a profissionalização dos trabalhadores desse setor, a economia, a saúde dos cidadãos e a infraestrutura de Limeira melhorarão.
Todos querem brilhar: ao comprar uma joia folheada, os consumidores querem brilhar; as empresas, ao crescerem, gerarem empregos, aumentarem seus lucros, querem brilhar; o município quer aumentar os índices de desenvolvimento, e, portanto, também quer brilhar. Mas não podemos permitir que as nossas águas percam o brilho, afetando a saúde da população.
É claro que as medidas citadas não irão solucionar todos os problemas dos limeirenses com relação a essas empresas, mas, pelo menos, a tentativa para resolvê-los vale; afinal de contas, como dizia Karl Marx, sociólogo alemão, de nada valem as ideias sem homens que possam pô-las em prática.



SOBRE O AUTOR
Thairiny Cristiane Ribeiro
Turma: 2.5 Ano: 2010
Thairiny foi medalhista de Ouro na Olimpíada de Língua Portuguesa em 2010
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Relato de experiência 2010 - Profª Flaviana Fagotti Bonifácio

Olimpíada de Língua Portuguesa 2010 - Escrevendo o Futuro
RELATO DE EXPERIÊNCIA

COTIL – COLÉGIO TÉCNICO DE LIMEIRA
PROFª. FLAVIANA FAGOTTI BONIFÁCIO
LIMEIRA/SP


Foi a segunda vez que participei da Olimpíada de Língua Portuguesa e, como já havia trabalhado antes com o artigo de opinião, creio que essa experiência trouxe-me, no mínimo, mais tranquilidade do que na primeira. Tive mais segurança para responder às questões dos alunos sobre a própria Olimpíada e, principalmente, sobre o gênero que eu já conhecia. Também pude relatar-lhes a experiência anterior, quando tivemos um aluno semifinalista, para que percebessem que também poderiam escrever um bom texto e aprender mais sobre o gênero proposto. No entanto, o fato de já ter participado anteriormente permitiu-me pensar de antemão nas dificuldades que certamente seriam encontradas.
Comecei apresentando aos alunos a sequência didática pela qual conduziríamos nosso trabalho e expliquei a eles quais eram nossos objetivos e o que esperava que conseguíssemos fazer em cada etapa. Tenho a certeza de que, ao dialogar com os alunos antes de qualquer trabalho, eles se sentem mais seguros e percebem a importância do que vai ser feito.
Partimos então para a realização de cada etapa, utilizando o material sugerido: estudamos a notícia e relacionamo-la ao texto opinativo; lemos um artigo de opinião e fizemos o estudo de suas características; estudamos a argumentação e a articulação do texto. Mas como cada turma de alunos é diferente, diversos também são os desafios encontrados com cada grupo e, neste ano, a maior dificuldade foi definir o tema. Quando chegou o momento de fazê-lo, percebi que eles ainda não estavam prontos e que havia ainda problemas para se estabelecer a questão polêmica. Os alunos diziam:
- Professora, posso criticar o aumento na tarifa dos ônibus?
- E se eu criticasse o aborto?
- Pode ser sobre “bullying”?
- Posso falar sobre preconceito?
Notei que eles estavam tentando escolher um tema que se encaixasse em um gênero já muito conhecido por eles, por isso mesmo, já consagrado entre eles: a dissertação escolarizada, que defende um único ponto de vista, apoiando-se em argumentos. É claro que se trata de um gênero bastante importante também, cuja relevância social é indiscutível, mas para um artigo de opinião que precisava mostrar um entrave, mostrar que a questão envolvia vários segmentos sociais, que dividia opiniões e que a solução para o problema não era simples, precisavam pensar melhor. Além disso, tinham que direcionar o olhar para as questões mais locais, que diretamente os afetava, ou seja, precisavam olhar para sua comunidade, para o lugar onde hoje vivem.
Naquele momento, ao tentar discutir de que maneira o assunto sugerido poderia dividir opiniões, quais as implicações do tema ou ainda qual era a opinião do aluno e o que, provavelmente, pensavam os que eram contra ele, houve momentos de um silêncio perturbador. Percebi que faltavam ainda referências e exemplos concretos e, dessa maneira, decidi utilizar textos escritos pelos alunos finalistas na edição de 2008 das Olimpíadas. Creio que, nesse momento, o fato de ter participado antes da Olimpíada e já ter trabalhado com o gênero tenha me valido muito.
Fomos lendo artigos que discutiam o problema das vans em Guará, o comércio de objetos religiosos ao redor da Basílica de Nossa Senhora em Aparecida do Norte, a construção de um centro de detenção e ressocialização em Francisco Beltrão, a migração de nordestinos para a cidade de Campos Altos em Minas Gerais e a mecanização do corte de cana no Paraná, problema também enfrentado por nossa região.
Conforme líamos, eu pedia que observassem o que os textos tinham em comum, que emitissem opinião sobre o texto, que o relacionassem com tudo que havíamos discutido sobre os artigos de opinião estudados até aquele momento. Quando questionei sobre os temas abordados, facilmente, eles foram dizendo que cada um mostrou um problema específico da sua cidade, de seu bairro, do lugar onde viviam. E, além disso, já perceberam detalhes da estrutura do texto: foram mostrando-me que sempre começava pela apresentação do lugar, situando o leitor; que na sequência vinha o problema; que vinham os fatos que caracterizavam a polêmica; que antes de afirmar ou reafirmar seu ponto de vista, o autor buscava apresentar a opinião dos outros envolvidos que, muitas vezes, se dividia entre a própria população, ou entre a população e a prefeitura, ou entre o patrão e os empregados; ou entre diversos setores sociais. Mostravam-me os argumentos utilizados por cada setor, comentavam como o tema se encaixava perfeitamente no que era a proposta, comentavam qual o caminho escolhido pelo aluno para conduzir o leitor durante a leitura. E pronto! Estavam lá meus alunos falando com propriedade do texto alheio e transferindo essa experiência para sua vivência.
Vieram os temas, vieram as primeiras versões, os comentários, as reescritas e chegamos ao final do trabalho. Não digo que todos produziram excelentes textos, mas digo que foi difícil selecionar os melhores e mais difícil ainda para a comissão escolar chegar a um só.
Ao pensar em toda essa nova experiência, fica para mim, mais uma vez, a certeza de que vale a pena o trabalho, o empenho, a aprendizagem de todo um processo; a certeza de que as dificuldades serão distintas a cada vez, mas que as estratégias são inúmeras, e basta observar, repensar e redirecionar as práticas que os resultados aparecem. Fica para os alunos também a certeza de que podem escrever, podem sempre melhorar o que já escreveram e podem usar essa escrita na tentativa de mudar o mundo e transformá-lo em um lugar melhor para se viver. E fica para a escola, representada pelo grupo de professores de Língua Portuguesa, a certeza de que se precisa repensar o programa, como já estamos fazendo, porque não dá mais para trabalhar se não for a partir de gêneros textuais.

Limeira, novembro de 2010
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